Entidades médicas chegam a consenso sobre risco de produtos oftalmológicos com corticoide
Em um ano, a visão do adolescente Alefe Nogueira passou de perfeita para quase inexistente. Aos 13 anos, ele está praticamente cego. Só enxerga feixes de luz. A causa do problema não foi uma doença hereditária nem um acidente. O uso contínuo de um colírio, vendido sem receita em qualquer farmácia, foi o causador da perda de visão.
A falta de controle sobre a comercialização desse tipo de produto é alvo de críticas de entidades médicas. No mês passado, a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) editou um consenso classificando esse tipo de glaucoma como o mais comum entre aqueles de causa conhecida e, portanto, o mais evitável.
“O uso do colírio com corticoide pode ser benéfico em muitas situações, mas seu uso crônico, sem indicação médica, é o que traz problema. Quando usado por anos, o corticoide provoca danos na estrutura do olho que levam ao aumento da pressão ocular, o que pode causar cegueira”, diz o professor livre-docente da Escola Paulista de Medicina e coordenador do consenso, Augusto Paranhos Jr. O presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma, Francisco Eduardo Lopes Lima diz que a entidade já protocolou, sem sucesso, duas solicitações de regulação da venda desses produtos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A sociedade defende que a retenção da receita médica seja obrigatória.
“A primeira solicitação foi feita em 2011 e ficou sem retorno. A segunda foi protocolada em 2013 e recebeu como resposta uma explicação sobre outro assunto. A impressão é que eles nem leram nosso pedido. É um total descaso”, comenta Lopes.
Fonte: O Estado de S. Paulo / Foto: Shutterstock