Um dos campeões de vendas nas farmácias e da automedicação, os anti-inflamatórios estão na mira das sociedades médicas. Com aumento de complicações e atendimentos de urgência provocados pelo uso inadequado, algumas entidades passaram a defender uma mudança na forma da prescrição. A proposta é que todos os medicamentos dessa classe sejam vendidos com a retenção de uma cópia da receita.
“É preciso fazer algo. Boa parte dos atendimentos de urgência, como hemorragias e lesões agudas gástricas, é provocada pelo uso exagerado do medicamento”, afirma o presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia, José Roberto Almeida.
“Somos uns dos campeões mundiais no uso dessa classe de medicamento. Eles são importantes, úteis, mas quando usados de forma adequada”, afirma o diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Anthony Wong.
Um dos principais erros, diz Wong, é usar anti-inflamatórios como ferramenta para reduzir a dor. “O medicamento não foi desenvolvido com essa finalidade.” Ele atribui a grande incidência de complicações ao desconhecimento das interações que o medicamento pode trazer. “Geralmente esse tipo de produto é usado por pessoas idosas, que já têm outros problemas.”
A ideia, portanto é estabelecer como regra geral, para todos os anti-inflamatórios, o que já acontece com alguns medicamentos da classe e todos os antibióticos. O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, afirma que pedidos de regras mais rígidas já chegaram à Agência. “Por enquanto temos outra prioridade. Não acreditamos que o comportamento possa ser mudado só com o aumento de restrições.”
Em fevereiro, a Anvisa publicou pela segunda vez um edital para interessados em participar de uma força de trabalho encarregada de estabelecer medidas para estimular o uso racional de medicamentos. Cerca de 120 inscrições foram feitas. A expectativa é a de que até o fim do ano uma política já esteja traçada.
Fonte: O Estado de S.Paulo